Bem-vindos a edição de agosto 2025: 930 palavras – 3,5 min.
Exemplos do esporte e do mundo corporativo comprovam que “a consistência come a habilidade no café da manhã”. Experiências atléticas são um diferencial na carreira de que quem pratica esportes. Vencer os vieses intrínsecos ao ser humano para tomada de decisão é um grande desafio. Aprender a gerenciar a tendência natural que nos faz enxergar o mundo de maneira mais negativa e distorcida deve fazer parte do repertório de gestão de todo líder.
1 – Artigo do mês: A consistência come a habilidade no café da manhã
Uma das crenças que norteia meu dia a dia é que pessoas com grandes habilidades inatas são uma exceção. De forma geral, um membro de qualquer equipe pode se desenvolver. Para isso, basta ter feedback constante, criar hábitos e definir metas realistas.
Vou usar dois exemplos para ilustrar o ponto. Um da minha jornada no Triathlon e outro de uma pessoa que fez parte do meu time de liderados.
É melhor ser o último que chegou do que o primeiro que desistiu
Comecei a praticar Triathlon por incompetência. Não tinha habilidade com nenhum esporte com bola, para o desespero do meu pai, que é fanático por futebol.
Por falta de opção, acabei virando um carateca na adolescência e comecei a correr para ganhar condicionamento físico. Como sempre gostei de pedalar, depois dos 30 anos, decidi aprender a nadar e encarar o Triathlon.
A natação era a modalidade que eu tinha menos habilidade. Na primeira prova, fui o último a sair da água. Minha mulher pensou que eu tivesse morrido afogado, quando viu os líderes da bateria seguinte saindo da água e eu “nada”. Recuperei algumas posições durante o ciclismo e a corrida, mas minha colocação foi péssima.
O Triathlon é um esporte fascinante. São tantas variáveis para gerenciar que é quase impossível fazer a “prova perfeita”. Para buscar uma boa performance, além de nadar, pedalar e correr, é preciso brigar, literalmente, para se posicionar bem na água, se acostumar com o desconforto de ficar de pé e correr para a área de transição depois da natação e, correr com as pernas “duras” depois de pedalar. Quando a modalidade é mais longa, tipo num Ironman, gerenciar a nutrição e a temperatura se somam aos desafios físicos e logísticos.
Com o tempo, fui trabalhando meus limitadores. Investi muito em melhorar a técnica na natação e me tornei um nadador mediano. Passei a ser autodidata, preparei meus treinos para o Ironman sozinho e cuidei das minhas individualidades metabólicas. Antes da minha última competição, busquei melhorar todos os pontos que não tinham sido bons na prova anterior. Por exemplo, treinei muito a transição natação-ciclismo e ciclismo-corrida, inclusive no percurso onde seria a prova. Terminei em 5º lugar, 10 anos depois da primeira prova!
O primeiro (e último) pódio a gente nunca esquece!
Hoje, me dou conta de que minhas habilidades de destaque não foram físicas, mas sim mentais. A disciplina e a busca por aprendizado constante foram fundamentais para me tornar um atleta melhor. Na vida pessoal ou profissional, é a mesma coisa, é muito difícil encontrar alguém que “nasceu pronto”, e, muitas vezes, leva tempo até nos transformarmos num profissional (ou pessoa) melhor.
Nem todo membro da equipe nasce pronto
Muitas vezes o time não está preparado para exercer uma função específica, seja pela falta de uma habilidade mais dura ou ausência de um comportamento necessário. Corrigir isso demanda um esforço conjunto entre chefe e subordinado.
Uma pessoa do meu time que não estava tendo uma performance adequada. Ela fazia parte de uma área de marketing e produtos, num contexto organizacional analítico, informal e relativamente agressivo. Além de gaps de conhecimento de finanças, ela era do tipo “boazinha”.
Tivemos uma conversa muita aberta. A discussão foi se ela estaria disposta a encarar um “plano de desenvolvimento” relevante, pois tinha potencial. Ela topou e partimos para a ação.
Para parte de finanças, indiquei alguns livros para ela ler e marcamos uma “aula” semanal para repassar os conceitos. Para a mudança comportamental, combinamos dela passar a se posicionar mais durante as interações sociais com os colegas, tipo um ensaio. No início eu mesmo a estimulava, verbalmente, a contestar as brincadeiras dos colegas.
À medida que o tempo foi passando, ela ganhou independência nas análises numéricas, ao mesmo tempo em que se sentiu mais à vontade para se expor durante as reuniões não sociais. Como consequência, ela acabou decidindo fazer uma pós-graduação em outro país e saiu da empresa.
No final das contas, uma comunicação e feedback transparentes, um plano de desenvolvimento minimamente estruturado e mudanças sutis de comportamento dão resultado.

2 – Achado da Internet
Atletas são conhecidos por sua disciplina, foco e determinação. Mas será que as experiências atléticas são um diferencial na esfera profissional? A resposta é sim, de acordo com o artigo “No Revenge for Nerds? Evaluating the Careers of Ivy League Athletes”, preparado por um pesquisador-maratonista de Harvard.
https://www.hbs.edu/faculty/Pages/item.aspx?num=64913
3 – O que estou lendo
Uma das crenças que direciona meu dia a dia é a busca por maximizar uso de dados para embasar as decisões. Mas vencer os vieses intrínsecos ao ser humano e separar o sinal do ruído é um grande desafio. Nossa visão de mundo é frequentemente mais negativa e distorcida do que a realidade, mesmo entre pessoas bem-informadas, como é evidenciado no livro “Factfulness” de Hans Rosling. Vieses como o instinto do medo (tendência a prestar atenção apenas ao que é assustador) nos enganam e demandam esforço mental para evitá-los durante o processo de gestão.
